terça-feira, 29 de outubro de 2024
Filigranes
É a típica livraria labiríntica com pequenas salas intercaladas onde se podem encontrar todos os géneros para todos os gostos. A oferta é mais alargada para livros em francês, mas existe uma boa seleção de literatura traduzida para inglês. No meio – e se não vos passar despercebido entre o caos de livros e estantes – encontram um pequeno balcão de café.
Tropismes
Se estiverem de passagem pelas Galeries Royales Saint-Hubert, é um ponto a não perder. A seleção de livros em inglês é mínima, mas a Tropismes é uma das livrarias mais bonitas que já visitei. O espaço ornamentado e o espelho, que dá uma falsa ilusão de profundidade, tornam este pequeno espaço num palácio de livros do qual é difícil sair.
Waterstones
Não tem os preços a que o Reino Unido nos habituou, mas os descontos estão lá e a oferta é alargada, principalmente se vão à procura de novidades ou dos títulos populares do momento. Achei giro ir a uma Waterstones fora do UK.
Passa Porta
É talvez uma das livrarias mais discretas desta lista e, se não estiverem a dirigir-se intencionalmente para lá, facilmente passa despercebida, mas foi uma das que mais gostei de visitar. A par da Waterstones, é uma livraria com uma extensa oferta de livros em inglês, marcadores amorosos e edições especiais. Vale a pena procurar.
Librebook
Se vivesse em Bruxelas, provavelmente mantinha esta livraria debaixo d’olho, uma vez que é mais conhecida pelos eventos literários que vai organizando ao longo do ano, mas a visita pontual também é merecida. O espaço é pequeno e simples, mas ideal para encontrar literatura internacional, com foco em traduções para diferentes idiomas, incluindo, mas não só, o inglês.
Cook & Book
Não se deixem enganar pela simplicidade do nome: esta é a experiência para os amantes de livros. Numa primeira impressão, julgava que era uma livraria mais especializada em culinária… e é, mas não (só) nos livros de cozinha. É que este espaço combina uma livraria com restaurante.
Certo, mas a originalidade não começa aí e sim nas diversas salas ao dispor na livraria, cuidadosamente decoradas e desenhadas de uma forma criativa e extraordinária, onde dá realmente vontade de pegar num livro e ficar a ler ali para sempre. Um dica extra? Não pesquisem por fotos nenhumas. Deixem-se surpreender.
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
domingo, 13 de outubro de 2024
‘Deixa a tua versão mais nova orgulhosa’ é a linha que conduz tudo o que a minha geração faz. Saímos de um comportamento excêntrico, onde queríamos agradar e orgulhar (ou invejar?) as pessoas de fora, ao nosso redor, para nos virarmos para nós próprios e respondermos às nossas próprias ambições e projeções sobre quem queremos ser. Cumprir os sonhos das nossas versões mais novas, atingir os objetivos que projetámos há 10 anos num quarto onde já não dormimos, entrar em contacto com a nossa criança interior que tinha planos deliciosos para o presente, mas foi obrigada a projetar o futuro quando lhe perguntaram o que queria ser quando fosse grande, sem perceção da unidade de grandeza.
A dimensão da resposta ao orgulho é tal que damos por nós como pais com síndrome de separação que, cada vez que se encontram com a sua criança interior, dão-lhe tudo o que ela não precisa, enchem-na de coisas e respostas que nunca pediu ao invés da atenção e da integração que deseja. A ausência sente-se dos dois lados, não só na nossa falta de presença na espuma dos dias, mas também na sensação de que ela não faz falta para nós.
A verdade é que, quanto mais envelheço – e digo-o no auge ancião dos meus quase 30 anos -, mais me apercebo de que ir ao encontro da criança interior é um sinal primário de ausência. Ela não foi a lado nenhum, nenhuma versão de nós abandonou-nos ou perdeu-se de nós. Nós é que fomos embora. Partilhamos uma guarda onde só as reencontramos quando são convenientes, às vezes trendy e todas as vezes seletiva; sim, é doce reencontrarmo-nos com a nossa criança interior, mas quantos reencontros já tivemos com a nossa insuportável versão adolescente? Quantas vezes ligámos a dizer que afinal não a podíamos vir buscar, que estamos presos no trabalho do embaraço que nos causou?
Qual das versões mais novas devo deixar orgulhosa? É que tenho várias. 30 anos – e acumula à medida que vou (bem) vivendo -, já arrecada algumas versões de mim, com sonhos, expectativas, aprendizagens e memórias. Todas com graus de satisfação diferentes, suponho. Não saber se conseguiria deixar todas as versões orgulhosas de mim e saber que houve sonhos que não cumpri em tempo útil (nem sei se vou cumprir) é uma enorme pressão. Orgulharmo-nos a nós próprios devia aliviar a pressão de tentarmos orgulhar várias pessoas, mas continuamos a ter várias versões ao longo da vida.
Quando escutava a pergunta ‘o que é que a tua versão mais nova diria se te conhecesse, hoje?’ não sabia dizer o que é que nela não me fazia sentido.
Fazer uma análise do que éramos e do que somos, do que queríamos e do que fizemos, do que sonhámos e conquistámos requer distância. Uma ponte quase argonáutica, porque quem éramos no ponto de partida já não é o mesmo que quem somos no ponto de chegada. Fazermos a nossa versão mais nova orgulhosa parte do princípio de que não está connosco no ponto de chegada e que a ponte nos aproximou, tirou o abismo entre nós. Só há abismos quando há rotura.
Mas eu não tenho esta distância de mim própria, nem sei ter. As minhas versões não são um bando de miúdas a gerir o meu divórcio com a juventude. Se eu entrasse numa sala com as minhas versões mais novas, todas teriam reações diferentes, mas uma só seria universal: eu não seria surpreendente. Estou com elas todos os dias.
A minha versão adolescente faz as ligações criativas mais espetaculares e é ela que ainda canta os refrões das minhas bandas favoritas. Ela gere até que ponto ainda consigo ser adulta e ser cool à frente de outros adolescentes, é ela que se atualiza. A minha versão de 25 anos tem a paciência que outras não têm para pensar comigo e processar os grandes momentos que vou tentando encaixar na minha vida, a superação de traumas – e mal posso esperar por esta minha versão atual estar do lado de versões minhas mais velhas e mais capazes de lidar com isto. A minha versão de 18 anos dá-me a energia para fazer mais 200m de crawl quando estou com um dia de trabalho em cima. E a versão de 10 assina todos os meus textos porque foi com ela que tudo começou – mesmo que já não seja num caderninho laranja.
E a minha versão de 5 anos? É ela que vê os filmes da Disney, é ela que dá o nó às pulseiras de missangas cor de rosa e que mergulha batatas fritas no sunday. É ela que ainda rodopia quando coloco um vestido e que enruga os olhos quando ri. Acho que também é ela que mais está com a Belka e mais esteve com a Laika.
As minhas versões mais novas tinham sonhos e ideais, projeções do que poderia vir a ser como 'crescida'. Algumas um pouco mais megalómanas do que outras; talvez seja um desgosto para a Inês de 5 anos saber que a minha profissão não é bailarina-princesa (desculpa, dei o meu melhor, mas o príncipe William está a ficar careca) ou que não fiz oitenta interrails na Europa como a Inês de 15 anos sonhou. Nem que não tenha a minha própria casa, como a Inês de 20 idealizou. Mas nada disso as apanha de surpresa porque não há uma ponte entre nós. Nunca houve abismo. Fizemos esta viagem juntas.
Fiz o meu ponto de partida quando nasci e tenho feito este caminho, sem insegurança por baixo, com todas elas. Não só com a sua companhia, mas também com a sua intervenção, sem partilhas de guardas, sem as perder pelo caminho. Cada uma com o seu momento para ser e estar e eu com os limites para definir quando é a vez de cada uma surgir ou deixar a Inês do presente ser e resolver. E, acima de tudo, a testemunharem tudo o que sou e tudo o que faço.
Vou fazer 30 anos em breve e não sei o que pensar sobre isso, se for honesta. Mas sei que tinha dificuldade em processar a mensagem ‘deixa a tua versão mais nova orgulhosa’ porque, desconfio, não era esse o meu objetivo. Deixá-la orgulhosa implicaria contar-lhe o que fiz. Prefiro que participe comigo.
Se puder ajustar a frase, sei que o que as minhas versões mais novas pediam não era que as deixasse orgulhosas. Era que não as deixasse para trás.
terça-feira, 8 de outubro de 2024
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
Setembro tomou o seu tempo para chegar e se despedir, dando espaço para que pudesse viver os últimos cartuchos do verão e saborear deliciosamente a chegada gradual do outono. É o que me agrada em setembro: ainda tem areia da praia e os primeiros casacos, uma agenda de planos estivais e momentos de acolhimento em casa, a finalização das leituras pop e a entrada nos livros mais densos.
Para mim, simbolizou reencontros com amigos, um casamento, aniversários especiais e muito, muito planeamento, com algumas saídas da zona de conforto. Ainda bem que foi num dos meses onde, curiosamente, me sinto mais confortável.
domingo, 29 de setembro de 2024
the sound of music (1965) |
1. Música com muitas cordas
2. Porta-chaves coloridos e carismáticos
3. Livros com uma prosa poética e que tomam o seu tempo para transmitir uma ideia
4. Sair do mar e já sentir o calor
5. Escrever com caneta preta de ponta grossa
6. Copos largos e pesados
7. Os folhetos do LIDL
8. Qualquer coisa em azul klein
9. Registar as tarefas à mão e os compromissos no calendário digital
10. Camarões numa esplanada
11. Plantas com folhas grandes e flores cor de rosa
12. Óculos de massa claros
13. Filmes com muito diálogo e pouca ação
14. Letras sem serifa
15. Fotografias de photoautomat
16. Dias quentes de primavera
17. Qualquer coisa do Snoopy
18. Nadar na piscina de manhã
19. Edições da New Yorker
20. A intro de Dreams dos The Cranberries
21. Salames de chocolate com mais bolacha do que chocolate
22. Não precisar de casaco à noite
23. Lugares arrumados.
24. Pinturas de ballet
como me sinto a atualizar as notas do meu telemóvel (source) |
Reading...
Os vídeo essays não são um gosto recente, mas adoro que estejam en vogue e que espoletem projetos como a newsletter The Deep Dive, que envia semanalmente recomendações de vídeo essays para assistirmos. Os tópicos são tão variados quanto o menu da internet pode oferecer - há edições que me passam ao lado por completo e outras em que acrescento mais uns quantos vídeos à lista infindável de to watch.
Eating...
Os camarões do Pomme Eatery. Já os tinha recomendado no ano passado, quando os partilhei com a Daniela, e renovei os votos neste regresso. Tenrinhos, muito bem temperados e uma delícia para dividir ou para aproveitar todos, sem sobrar para ninguém!
Playing...
Uma playlist que me transporta sempre para os salões dos golden years. Acho que é esta a magia da música: cria uma nostalgia de algo que nunca se viveu - e de uma época que talvez nem gostasse assim tanto de viver, na verdade. Destes 'anos dourados', guardo a música, o cinema, o design gráfico e alguns pormenores do guarda-roupa que adapto para a vida de agora (mais dourada e à minha medida), e é precisamente nessa harmonia que combino esta coleção de canções e épocas: clássicos do jazz e big band que escuto enquanto danço na cozinha, finalizo tarefas ou quando quero começar a manhã com o tom certo.
Obsessing...
Não vos consigo explicar o acolhimento, nostalgia, conforto que sinto cada vez que ligo estas televisões - uso imenso como som de background para trabalhar, mas admito que mais do que uma vez fiquei genuinamente siderada a acompanhar um programa ou anúncio.
Recommending...
Um dos meus podcasts preferidos regressou para uma 2ª temporada e tem sido o bálsamo das minhas segundas-feiras: todas as semanas, no Encontro com a Beleza, o maestro Martim Sousa Tavares escolhe um tema relacionado com música clássica e descontrói a obra ou o/a seu/sua compositor/a para aproximar o público deste género tão elitizado e, por vezes, incompreendido. Os episódios são curtinhos (com muita pena minha), mas é garantido que terminamo-los sempre mais ricos e que o Martim tem uma curadoria surpreendente e refrescante.
Treating...
Experimentei pela primeira vez fazer limitação de screen time depois de ler esta edição da newsletter Litulla. Adaptei os tempos e limites para a minha rotina e, verdade seja dita, o resultado no final da semana nunca é realista porque tenho um outro telemóvel de trabalho a que faço uso para a gestão de redes dos meus clientes, mas a nível pessoal está a ter resultados surpreendentemente positivos. Não entrei para esta experimentação com muita fé, mas tenho cumprido com as limitações a que me propus - nunca faço skip à 'barreira'! - e a verdade é que traz bons resultados. Obrigada pelo empurrão indireto, Marta!
Giselle (um dos meus bailados preferidos), Act II, Alicia Marcova |
domingo, 22 de setembro de 2024
para mim, ele sempre foi outono e ela verão (source) |
O outono é a sexta-feira do meu ano, a estação onde me sinto mais livre para ceder ao que me apetece sem a pressão estival de ter a agenda cheia nem a melancolia do inverno que me faz ter saudades dos planos ao sol.
quarta-feira, 18 de setembro de 2024
Língua | A Bélgica tem três línguas oficiais: francês, flamengo e alemão. Têm por onde escolher!
Batatas fritas | O ex-libris do país. Diz-se que foi aqui que as batatas fritas como as conhecemos foram inventadas, mas devo confessar que não foi uma experiência particularmente excecional. Achei-as francamente banais e a maioria dos locais icónicos servia meras batata fritas congeladas. Recomendo que giram as expectativas.
Escapadinha | Se têm poucos dias de férias para dispensar, as 3 cidades mais populares (Bruxelas – Gante – Bruges) são facilmente visitáveis num fim de semana prolongado. Irão ver tudo noutra velocidade, mas é perfeitamente fazível.
Cerveja | Se são apreciadores da bebida, o difícil será escolher: existem mais de 600 variedades de cerveja e mais de 400 cervejeiras para experimentar (preferencialmente, não todas na mesma viagem…).
Aeroporto | Para chegarem a Bruxelas, têm dois aeroportos possíveis: Zaventem e Charleroi. O Charleroi é substancialmente mais longe da cidade, pelo que vão ter de considerar o tempo de transporte até à cidade em si. Já Zaventem tem ligação direta com o metro e facilita as deslocações, mas não o achei seguro à noite. Se vão viajar e são um grupo de mulheres ou estão a solo, passem o mais rapidamente possível pelo TSA e tenham cuidado.
Evitar os fins de semana | Se têm no vosso roteiro o plano de visitar Gante ou Bruges, evitem apontar a visita dessas cidades para o fim de semana. São cidades pequenas e facilmente lotadas nesses dias, o que pode prejudicar um pouco a experiência e beleza do lugar.
McDonalds, onde estás? | Sabiam que a Bélgica é o lugar no mundo (desenvolvido) com menos McDonalds per capita? Em contrapartida, é o país com mais castelos por m2 no mundo (parece-me justo).
Capital da União Europeia | Como sabemos, Bruxelas é considerada a capital não-oficial da União Europeia, uma vez que abriga a sede da Comissão Europeia, do Conselho da EU e uma parte do Parlamento Europeu.
Waffles | É impossível pensar na Bélgica sem sonhar com as famosas waffles! Existem dois tipos tradicionais de waffles na Bélgica: a de Bruxelas (tipicamente retangular e com uma textura mais leve e neutra) e a de Liège (geralmente arredondada, mais densa e doce porque leva uma cobertura melada – na minha opinião, nem sequer necessita de topping).
Comboios | É o meio de transporte ideal para circularem pelas várias cidades. Os preços são relativamente acessíveis, os horários são variados e confiáveis e chegam rápida e comodamente a cada destino.
O Big Bang do Big Bang | Sabiam que o Big Bang foi uma teoria que nasceu na Bélgica? Georges Lemaitre – o padre e físico que avançou com esta teoria – estudou e trabalhou praticamente toda a sua vida na Bélgica. É recorrente associar-se esta teoria ao Hubble, mas Lemaitre já tinha publicado esta teoria dois anos antes.
Os caldos | Se quiserem ir um pouco além das batatas fritas e waffles, os estufados de carne e caldos de peixe são também bastante típicos e fáceis de encontrar. Duas propostas bem densas, mas que combinam com o clima frio e chuvoso da região.
Dragões e picardias | Gante e Bruges têm uma picardia regional; caso visitem Gante, irão reparar que existem vários dragões dourados, mas este é um símbolo roubado a Bruges. A verdade é que o dragão também não era originário desta última cidade, já que se acredita que também foi roubado à Constantinopla. Se isto não resume bem a antiga Europa!
As janelas | Se observarem as casinhas típicas, irão observar que as janelas têm algo muito peculiar - e único no país. As do rés-do chão são sempre maiores, seguidas de umas médias no primeiro piso e, no topo, as mais pequenas. Este rácio acontecia porque o rés-do-chão raramente era utilizado para viver/morar (nem o era aconselhável por causa das cheias). Normalmente, era o lugar de encontro para festas e jantares, pelo que as janelas maiores serviam o propósito de matar a curiosidade de quem estivesse de fora a observar.
Os telhados em degrau | As fachadas com telhados em degrau são bem típicas na Bélgica (e noutros países da Europa, como a Holanda, pex). Na verdade, não tinham grande utilidade. Era mais barato fazer um telhado a direito, por isso, recorrer à técnica em degrau demonstrava poder económico. Quantos mais degraus, maior a riqueza.
Prontos para embarcar até à Bélgica?
sexta-feira, 6 de setembro de 2024
Cresci numa casa que não conta histórias no frigorífico. A conveniência e elegância do design de eletrodomésticos embutidos tirou toda a possibilidade e graça de afixar qualquer coisa. Não tive o meu horário da escola, o nº da pizzaria preferida, ímanes, recados, a lista das compras, nem sequer um daqueles cartões de visita magnéticos sobre um serviço a que nunca recorremos porque nunca o vimos como algo além da utilidade de ser só um íman.
O meu frigorífico só tinha conteúdo no seu interior e muitos dirão que é para isso que serve e basta. Tal como as pessoas, é o seu interior que nos alimenta.
Mas se há característica inerente à humanidade é a nossa capacidade de dar mais do que um sentido a qualquer coisa. Frigoríficos tornam-se, assim, pequenas pistas de memórias e auxiliares do que importa no quotidiano.
O que escolhemos afixar nas suas portas - quando podemos - pode dizer muito sobre quem somos, mesmo quando achamos que o seu inventário é casual.
O mundo pode caber no frigorífico. Uma compilação dos ímanes de lugares onde fomos ou de onde as pessoas pensaram em nós. Os postais enchem os olhos. Os talões de desconto que ainda não perderam a validade estão de passagem. Existem horários para não perder nenhuma aula e os números de emergência para quando abrirmos a porta e tudo parecer vazio.
Encontramos o que não podemos esquecer ("comprar o leite") e o que não queremos esquecer (a polaroid de um jantar de amigos). Uma receita vive na incerteza se alguma vez sairá daquela porta para pousar na bancada enquanto é preparada. As palavras que escolhemos formar com as letras-íman que sobram e a criatividade de formar sempre qualquer coisa. Os desenhos dos miúdos. Um panfleto que serve como promessa de que um dia vão aderir ao serviço.
Estará apenas o essencial ou o que vai para a porta é um compromisso vitalício? Conseguiria escolher um destino antes de um ingrediente? O que fica à vista é observado ou esquecido com o passar dos tempos? A curadoria é rigorosa - só fica o que é importante - ou um escape para o que não se sabe onde guardar? E quem não tem nada - mas podendo ter o que quiser: o que nos diz esse minimalismo?
Num frigorífico, pode ver-se o núcleo de quem vive na casa. Do que se nutre e recorda, do que preserva no seu dia a dia, as suas preferências de restaurante, supermercado, tipos de férias e pessoas.
É curioso que tenhamos a capacidade - e a vontade - de encontrar qualquer pretexto, em qualquer espaço, para o tornar mais nosso, com mais pistas sobre quem somos, onde estivemos, o que fazemos, o que mais recordamos. As molduras, quadros, livros, telemóvel, aplicações e contactos não bastam.
A não ser que tenham um frigorífico embutido. Nesse caso, escreverão sobre as portas de frigorífico dos outros, com todo o descaramento.
não puxem muito por mim para falar de mais eletrodomésticos |
Reading...
Mantendo-me fiel ao tema, este artigo explora como é que a chegada dos frigoríficos - e da refrigeração em geral - alterou as nossas perceções de sabor e até tornou possível certas receitas e comidas. Um pouco impensável imaginar que, sem refrigeração, não existiam sobras nem hambúrgueres, não?
Eating...
Poutine. Bom, no tempo passado, mas comi todo o poutine que pude enquanto estive no Canadá, sem medo de ser feliz nem de disparar o colesterol. Um prato típico canadiano composto por batatas fritas - embora exista quem asse a batata em pequenos cubos para uma opção um pouco mais 'saudável' -, cheese curds (que a tradução preguiçosa remete para requeijão, mas não é. Está mais parecido com as bolinhas de mozarella) e um caldo de carne. É bem típico no outono e inverno (por razões óbvias) e uma receita de conforto que, não sendo recomendada comer regularmente, às vezes recrio à portuguesa nos dias frios.
Playing...
Finalmente assisti a When Harry Met Sally, que respondeu a todos os meus apelos pelo outono em Nova Iorque, comédias românticas com a Meg Ryan, histórias escritas pela Nora Ephron e filmes com muito mais foco nos diálogos do que num plot. O meu tipo de filme predileto é aquele em que dou por mim a conversar com as personagens, com vontade de acrescentar as minhas próprias opiniões. Neste caso, o filme centra-se na questão de que homens e mulheres hétero não conseguem ser amigos. No final, o filme responde a este dilema - concordemos com ele ou não.
Filmes da Nora Ephron são imbatíveis e este não é exceção, embora o meu coração esteja eternamente na história e livraria de You've Got Mail 💌
Obsessing...
Esta edição da Teleculinária. Comprei-a pela promessa de várias refeições em 30 minutos (porque se há ingredientes que me faltam sempre na cozinha são tempo, criatividade e vontade), mas acabei completamente rendida porque tem uma série de receitas típicas portuguesas que sempre disse que um dia gostava de ter no inventário e nunca fiz o esforço de as guardar - não exponham isto à minha avó, por favor.
Podia procurar todas estas receitas na internet e fazê-las? Sim e a minha pasta de receitas do Pinterest é a prova viva disso, mas adoro que tudo esteja num formato de revista, com ingredientes e quantidades que não tenho de adaptar para a cultura gastronómica portuguesa e poupa-me de mais um momento dependente do ecrã, que cada vez mais valorizo.
Vida longa às revistas culinárias!
Recommending...
As Golden Glow Drops da W7. Misturo-as no meu creme hidratante e ajudam-me a dar um pouco mais de sol a esta pele que só tem dois tons anuais: lula e lagostim.
Treating...
Fazer journaling logo de manhã. Tenho o diário ideal para isso porque não dispenso mais do que cinco minutos, o tempo que me leva a ferver a água e fazer o meu chá da manhã. É uma forma de refletir sobre o dia e de ginasticar este exercício da gratidão de uma forma realista e adaptada à minha rotina.
como me sinto a ver filmes de outono com mais de 25ºC lá fora (source) |
domingo, 1 de setembro de 2024
Pela primeira vez desde que trabalho, tive três semanas de férias que, modéstia à parte, soube aproveitar da melhor forma possível. Entre banhos de mar e lago, sestas reparadoras, dias a fio sem ecrãs, rotação de biquínis e almoços com amigas, momentos a dois e umas quantas viagens de avião, esta foi a equipa que esteve comigo durante todo o verão.
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